- Estou farta do peito de leite finito, ela continua
Farta do colo que enfim aquece o frio outrora posto
Do carinho que afaga a saudade
do instante do alívio que precede um novo período de angústia
de fome e de frio
Da mesma forma se vê cansada de acreditar que esse peito deveria jorrar fonte láctea infinita
Humanamente, o leite foi suficientemente produzido para uma mamada
(afinal, o bebê não sabe pedir para parar, o peito faz isso por ele)
Um peito suficientemente bom
para um bebê suficientemente satisfeito
Na sua história percebe que, angustiada pela angústia,
mordia e ainda morde qualquer peito que quisesse alimenta-la
(afastando-os em brasas, queimados para que não atrapalhem sua fantasia de paraíso)
ao mesmo tempo que suga todo o leite, e mais um pouco, não satisfeita com o satisfatório
até que fica cheia, bem cheia
mas no desejo de ficar bem cheia, vomita
e fica vazia, bem vazia
- Já pensou em trocar esse modelo por outro em que
não se pode dar todo o leite a alguém, mas se pode dar algo
assim como não se pode receber tudo de alguém, mas se pode receber algo
Talvez você se veja mais livre, continua a outra voz
Nunca vi que Cristo, Maomé, Buda ou quem quer que seja
dizendo que precisamos destruir o outro parar sermos felizes e livres
(Você confundiu o Paraíso com o Inferno)
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