quarta-feira, 18 de maio de 2022

algo, não tudo (ou a liberdade do suficiente)

 - Estou farta do peito de leite finito, ela continua

Farta do colo que enfim aquece o frio outrora posto

Do carinho que afaga a saudade

do instante do alívio que precede um novo período de angústia

de fome e de frio


Da mesma forma se vê cansada de acreditar que esse peito deveria jorrar fonte láctea infinita

Humanamente, o leite foi suficientemente produzido para uma mamada

(afinal, o bebê não sabe pedir para parar, o peito faz isso por ele)

Um peito suficientemente bom

para um bebê suficientemente satisfeito


Na sua história percebe que, angustiada pela angústia,

mordia e ainda morde qualquer peito que quisesse alimenta-la 

(afastando-os em brasas, queimados para que não atrapalhem sua fantasia de paraíso)

ao mesmo tempo que suga todo o leite, e mais um pouco, não satisfeita com o satisfatório

até que fica cheia, bem cheia

mas no desejo de ficar bem cheia, vomita

e fica vazia, bem vazia


- Já pensou em trocar esse modelo por outro em que

não se pode dar todo o leite a alguém, mas se pode dar algo

assim como não se pode receber tudo de alguém, mas se pode receber algo

Talvez você se veja mais livre, continua a outra voz

Nunca vi que Cristo, Maomé, Buda ou quem quer que seja

dizendo que precisamos destruir o outro parar sermos felizes e livres

(Você confundiu o Paraíso com o Inferno)


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