quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O Sol e as nuvens

 (de um lindo sonho, rico em detalhes, em cheiros, em cores e em sensações)

Nele vou viajar para a praia com ela

Eu e ela estamos muito próximas, em um sobe desce, nos fazendo companhia.

Chegamos à casa beira mar, um Sol lindo lá fora, um céu de brigadeiro e tudo o que queremos é descer para o mar.


Mas a gente enrola, enrola procurando qual chinelo entre quatro pares de chinelo levados,

a gente enrola porque pessoas desceram correndo a escada e fomos ver quem era,

a gente enrola porque decide passar no mercado e comprar comida para o jantar;

e cada vez que a gente enrola, o Sol vai desaparecendo e aparece uma nuvem, uma nuvem mais escura de chuva, e vento. O mar em ressaca, víamos distante o encontro da água com a areia.


A sensação é a de que a gente só tem aquele dia e que não estamos sendo capazes de aproveitá-lo verdadeiramente.

O Sol vai escapando debaixo do nosso nariz, o Sol! 

Em algum momento olho novamente e o mar está cheio, tão cheio que suas ondas parecem quilométricas, as gotas das suas quebradas respingavam em nós, de dentro da casa. O mar vinha até mim.

Mas eu? Ainda não ao mar.


- Pega o chinelo, pega a chave, fecha a casa, vamos, vamos para o mar, desce.

Ela quer ir ao mercado, claro, o que você quiser eu farei. Vamos, no meio do caminho passamos no mercado para comprar ingredientes do jantar.

E o mar e o Sol nos esperando lá fora.


A gente senta para almoçar, pedimos cervejas, pedimos caipirinhas, e o mar, deixa ele esperar.

Enfim, vamos ao mar, mas para isso precisamos passar por dentro de uma loja enorme - de chinelos havaianas - onde havia duas saídas para a areia.

O Sol está quase lá

E quando chego perto do Sol, muitas pessoas indo e ainda mais pessoas voltando, 


Eu escorrego, rasgo meu braço esquerdo e meu peito em algo pontiagudo, descendo de mim uma pele pendente que parecia uma asa sangrenta.

Essa ferida não dói tanto quanto ela é feia 

Ela não dói tanto quanto era decepcionante porque, mais uma vez, o Sol fica para depois

E as pessoas dizem: vamos, temos que cuidar disso

E eu penso: mas como vou tomar Sol com essa asa enfaixada? Teimosa, quero a opinião de algum cirurgião, na esperança que me dissessem que não era necessária sutura e que a cicatriz se daria por segunda intenção.


E mais uma vez, o Sol cada vez mais longe, o céu cada vez mais chuvoso então

Decido olhar para a ferida e só para ela, já desistindo do Sol.


Nessa hora chove, mas chovem notícias

Más notícias

Alguém morreu dia três de setembro e foi encontrado dias depois

Outro alguém desapareceu


- O que era vontade de ver Sol, tudo o que vimos foi sangue.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

concentra-se

 a passagem terrena é prenúncio de novos tempos

sóis e girassóis

e nós

e também as nuvens sobrecarregadas de si mesmas 

choverão

as flores se inundarão

deixando para trás sua abundância primaveril

abrindo espaço para o verão

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

pegadas do lamento

 

entendo seus nãos

tento vivê-los como fossem meus

empresto de volta em formas secretas, fictícias, fascímoras e venenosas


me pico para conhecer o sabor e o torpor

saio atrás das suas saídas

para caminhar lamentando as pegadas

mas deixo aberta a porta

para seguir as minhas 


de volta ao ninho

ninho vazio de você

ninho cheio de mim

ninho do talvez


                        escrita intuitiva 30.08.20

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

que sou seu par em nossa mesquinha vileza, sabes disso?


sabes que mesmo quando meu verbo escolhe contar das belezas e das riquezas, não tento me esconder


são horas em que presto por orar internamente, a encontrar no silêncio e na paciência a solução 


são horas em que desejo te poupar de receber de minha inundação mais gotas para a sua 


amo você, com e sem suas máscaras 


com e sem as minhas 


amo você príncipe e amo você vil




        



               - do baú

domingo, 6 de setembro de 2020

Posso sentir isso 

parece que estamos num furacão,

o meu alimenta o seu e vice versa 

mas que bom que nosso amor faz isso também, pelo menos beija a ferida aberta


Com uma saudades, uma nostalgia e uma certa anestesia em grande parte do dia 

Está corrido também 

Parece até obra da providência pra não me deixar sucumbir




        



               - do baú

sábado, 5 de setembro de 2020

escapismo

Sempre me acompanharam duas ideias, 

duas palavras de som gostoso: escapismo e solitude.

Faltassem-nas significado, já me continha com sua sonoridade, mas quando as digo e ouço, mergulho.

Mergulho no devaneio, me fascino na fuga, me invoco na porta que abre pra fora (ou pra dentro, ou pra cima, ou pra uma direção nunca antes descoberta pela física). 

E me encanta o estar só, e sentir-se tudo. 
Só e tudo, não é isso o tal da arte de viver? 
Tem quem chame nirvana, alguns plenitude e outras lindas palavras também.

Mas qual a graça de se tirar o "só" e o "tudo" de uma única palavra? .

Me lembro agora, há outra palavra que amo também: tilintar. 

Talvez seja isso seja tudo: tilintar sons do só, sons do tudo, escapando juntos

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

luas e lados



São nódulos femininos

Abalos peregrinos
polindo crateras

Fissuras de clarão
sólidas
císticas
quintenscenciadas
Cercadas por escuridão

Se inseguros
Atentem-se aos ouvidos
É o prenúncio de novas eras

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

tenra

   

a ternura é poder estar aqui, junto a ti, mim mesma

tão quente é o Sol que toca toda a pele que habito

haveria de ser assim 

o que simplesmente há 


sementes de árvores nunca antes conhecidas

senão quando crescidas e desquitadas suas flores em frutos furta-cor

não se conhece o tempo 

tampouco o certo e o errado

tudo está posto e compostado 


                 escrita intuitiva 30.08.20

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

desarte

  

A arte de esperar


Do espero tenho medo

Medo este, cegado

Quando descortino os olhos me vejo, desde pequena, 

Apreciando a arte de esperar 

É nela que mora o sonhar 

E por que não o realizar 

Mesmo que apenas projetada a fantasia no palco dos olhos fechados 


O esperar não atrasa o desejo, o reaviva

O mantém, o rega e lhe confia sua maior potência do porvir


O tardar, adianta

O adiantar conclui e cessa 

Desarte essa de realizar 


                 escrita intuitiva 19.08.20

terça-feira, 1 de setembro de 2020

ar

 

tudo o que esta no ar respira

por que não haveria de ser assim amar?

Inspirar

Expirar

Vir

Ir

a saudade é tão mais temperada

quando sei que sempre virás

e depois sempre partir 


                 escrita intuitiva 18.08.20