quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Gotas d´água se conversam.


     Sabe, sinto isso todo-santo-dia e me acho bipolar quando reclamo para, em seguida, louvar a vida com mantras, pensamentos-agradecimentos e palo-santo. Geralmente acordo mais agradecida e durmo mais reclamona. E o melhor ciclo é quando durmo em paz com a Vida, essa maravilha que há em nós, graças a Deus, que nos dá energia até de criar. 
Pena que criamos (presente do indicativo/pretérito perfeito-maisoumenos perfeito) cânceres e metástases, mas sempre tem a voz um de nós, com aquela cara zen irritante, pra dizer que "tudo está como deve estar. Você está onde deveria estar. Foque-se no presente, no aqui e no agora", mas a outra parte de mim se faz uma pergunta retórica: Mas e esse pré-câncer que já está fecundando em mim?
     Logo assumo ser cíclica mesmo. A resposta pra minhas cínicas e pessimistas retóricas é "estamos a humanidade onde deveríamos estar". Quilos de histórias e estórias nos trouxeram pra cá, nesse exato momento e configuração. E um ciclo só tem permissão de encerrar quando já foi aprendida uma lição. Qual é a nossa? 
     - Muitas. 
     - Como posso protestar? 
     - Difícil, exceto multidão unida ao tay chi chuan, juntou muita gente dá bagunça, dá barulho, ninguém entendeu o que eu gritava. 
     - Nenhum tipo de protesto? 
     - Bem...na verdade há um. É um protesto ambíguo, veja bem, esteja sereno quanto a essa bagunça toda que está rolando, reconheça sem julgamentos, culpados, rancores, e olha-que-merda-que-me-aconteceu-hojes. Simultaneamente, negue essa bagunça toda. Viva uma pulsação, uma respiração e um pensamento organizado, lúcido. Entenda o que está havendo, perceba que são muitas pequenas peças poluindo um jogo. Entenda a si mesmo, antes de tudo, saiba o que você polui em si, seja honesto consigo próprio, queira analisar fatos importantes da sua infância, da castração, do seu comportamento rotineiro. Questione sua sanidade vez ou outra. Questione amigos se há algo de errado escancarado que só o eu cagado não consegue perceber. Descubra seus prazeres, aprenda a desejar se for preciso. Vá se conhecendo, num gerúndio contínuo, e descobrindo o que te faz brilhar e o que te faz murchar. Aceite que sempre murcharás, que é sempre ciclos. A partir disso o que te faz brilhar, contagie o próximo. Sorrie quando se sentir foda e deixe esse sorriso atingir vários. Sorrie pelas diversas razões. Encontre um canto pra sentar e sentir, quando percebeu que o dia está estranho*. Afinal já disseram que temos medo do nosso brilho, e não da nossa escuridão, por isso às vezes tudo parece às avessas. Uma vez descoberto e exercitado, use esse brilho para curar seu corpo dos cânceres, a mente dos overthinkings, sua alma dos olhares, e a humanidade da sua rotina. Tipo isso, né?






*Importante: em momentos loucos grite, um belo e em alto som, palavrão do caralho. Aí é isso, uns segundinhos e logo estarei em outro momento.

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