domingo, 19 de dezembro de 2010

"pra mim chega"

e o estalo que o tirar do cinto de segurança faz em si e no coração
estala também o medo de solidão
solidão
o começo
ou o fim da discussão.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

carta a e (ou mordaz)

"entenda que eu te entendo
e entendo que muito do que soa baixinho e que parece silêncio é, na verdade, distância"




um dia eu te disse e em outro repeti Não sonhe comigo
mas talvez você o tenha feito
inconsciente e literalmente mesmo.
me delineou de um jeito que desejou delinear
e no dia seguinte eu te apontei que meu delineador é todo borrado nos olhos e em mim.
não supro expectativas.
as-sopro.
me poupo e faço aquilos, de charmes e graças, coisinhas que vou fazendo que não custam, não valem e
não enriquecem ninguém.
não sou quem pareço.
e muito menos pareço ser quem eu sou. tudo num gerúndio.

não vou dizer Te avisei porque parecerá que agi daquela maneira só por sarcasmo e pra te mostrar meu ponto.
só quero pedir
perdoe seu Sonho, ele não me sonhou por maldade.

domingo, 21 de novembro de 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pedal do meio

Nada como duas horas no trânsito.
Suficientes para sentir os
32,5ºC como se fossem vinte, depois quarenta, depois molhados.

Nada como tira
r a sandália e não tirar os olhos do meu retrovisor com medo de se repetir a mesma cena de assalto (se bem que, se ele vier pela janela do passageiro...já tenho um celular reserva em um dos porta-copos).
"Vou deixar a janela meio aberta mesmo". E agradecer o pote de mil mentos que comprei só porque cabe certinho no meu outro porta-copos ocioso e também como previdência para um belo trânsito sextafeiral.
Li o final do conto do Veríssimo, vi se minhas unhas já secaram, buzinei, estressei, odiei e fechei a janela quando parei do lado do boteco (não daqueles sujos dos quais eu imunizadamente amo tomar café no copo americano) de aparência e clientes asquerosos.
Eu tinha que ficar na faixa da esquerda rápido...não por nada, só pra gritar "Goiabaaa!!".
E eu comprei a inflacionada e mais deliciosa transgênica goiaba vermelha do mundo dos faróis!
Dai tudo ficou bonito mesmo. Meu ipod descobriu que não pode tocar Kitaro depois de tocar Roulette Dares, minha maquiagem se descobriu derretida e a chuva choveu, parou e brisou um vento digno de correr o risco com as duas janelas abertas e de aumentar o som e jogar o braço pra fora e sentir algumas gotas persistentes.
E assim eu me despedi da flor presa no meu vidro da frente que cuidou de ficar lá comigo por duas horas até a nova chuva.
Que choveu na hora certa o suficiente pra preparar o mato daqui de casa, que se perfumasse com aquele cheiro molhado e verde dos serenos...
Serenidade em hora tão irônica e mais bem-vinda.

domingo, 31 de outubro de 2010

"no meu mundo cachorro late ao contrário
o leite com mate tem nata
o cara parado na escada bonzinho bandido vem no primeiro trem cafungando
no segundo trem três dedos na coxa dóem
ligam
eu penso Paulo, você aceita bilhete?"


odiei me sentir cobrada por quem fosse.
pronto,
um rascunho em um dia tenso do qual eu não consigo decifrar o que escrevi, que ficará assim, rascunho.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

preciso trocar de música

preciso largar disso de comer toda hora,
não é fome.
preciso largar disso de varar as noites,
mais vago que estudo.
preciso largar disso de te ligar, já apaguei seu número.
preciso mesmo é esquecer o número,
e você.
preciso decorar um número novo. um número de dança!
preciso voltar a dançar sozinha no quarto.
preciso usar uma tiara azul, aquela de quando eu me descobri mocinha.

preciso arranjar uma calota pro meu carro e aprender a dirigir na chuva.
e parar de perder as coisas, brincos, alargadores, dinheiro, pensamento...
e ir numa livraria até enjoar de ver livros e ir na parte de revistas e dar um suspiro ao ver uma revista de como ficar magra, daí vou lembrar que preciso parar de comer toda hora e preciso de outros precisos.
preciso parar de colocar cinco despertadores e acordar logo com um só e dizer ao meu irmão que eu não sou o despertador dele mas que a cada mensagem de "caro despertador, me acorde amanhã blablabla" eu leio como uma mensagem de te-amos.
preciso dar mais comida pro charcas, essa que eu não vou comer, vou repassar, só não sei se ele come chocolate.
preciso
voltar a pintar minhas unhas de vermelho
ir pra paulista passar frio e ver filmes sozinha
e amores
ir ver minha prima
fazer algum mimo pro meu pai

lavar a louça
arrumar meu material da morfo
comprar uma agenda
e usar a agenda.
estudar.
encontrar as coisas que perdi.
perder coisas que não quero.
deixar pessoas que não me querem
abraçar quem eu quiser
dizer um segredo que está entalado em mim
guardar o segredo que está ainda mais entalado.
contar meus segredos baixinho para mim mesma na almofada e me espantar achar bonito e feio e rir e chorar e dizer pra mim não faça de novo, faça inovado, esconda, publique, reze.
preciso rezar e perguntar pra Deus por quê Ele nos marioneta tão ironicamente.
preciso encontrar o fio da marionete que sou e escalá-lo e olhar lá de cima como somos todos um bando de sujeitos sujeitos à uma ironia que Deus só faz por graça.
vou cortar um dos meus fios, só o que segura minha cabeça, vou cortar o seu fio também, vários dos seus fios.
quero minha cabeça solta pra eu poder rir de ver você cambaleando tentando andar sem fios irônicos apenas na sua liberdade e na sua verdade.
vou rir mas no fim vou te segurar antes de você cair embriagado de livre.
e vou pedir um abraço porque eu só posso mexer minha cabeça e você vai me abraçar e eu vou chorar e dizer que te amarro de volta e que sumo da sua vida, novamente irônica.
vou dizer que sumo e ironicamente
estupidamente
não vou conseguir.
porque amarrei um laço que segurava minha cabeça bem aos seus pés estupidamente e
isso só me restou em chutes que me tontearam
a ponto de dizer
eu vou conseguir.
vou cortar.
e vou me amarrar em outro lugar ou em outro alguém, com o laço bem frouxo como nós dois queríamos.
vou ficar solta como sempre quisemos, mas falhamos em algum momento e erramos em algum lugar.

preciso desligar meu rádio.
liguei meu rádio e ele disse "I lost myself" e eu respondi eu também.


talvez trocar a música baste.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

comandador

como um andador
te desvio
como num corredor
te escondo
dentro de um lugar sem nome
só quero esquecer seu nome
não quero saber de você
como anda a dor
que a resposta virá mentida
metida no teu sorriso vulgar
no teu só riso que finge dor.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

nubívaga


sequer tento. não sei escrever nada que se diga um poema. não sei mesmo, e não me frusto.


só que dia desses
descobri...
que tomo atitudes sem o menor sentido só para
ter a graça de ver pessoas ao meu redor tentanto encontrar minhas razões de tomá-las.
vê-las realmente procurando, realmente se importando
e realmente se empenhando.
sendo que no fundo,
no fundo, eu não tinha motivação ou lógica alguma.
pura graça. puro charme.
puro poema.

...ser poeta em viver.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

uma rosa mal espetada traz o choro


o choro ininterrupto. o choro chorado e doído e pra sempre, e as lágrimas que fazem as luzes do semáforo brilharem de um jeito estrelar e bonito e doído. as estrelas de luz mudam na inconstância do choro, do choro que muda mas que não pára. e que não se sabe. nem foi bem uma rosa, foi metáfora.

rosa é metáfora pra insatisfação. de frequentar ambientes, frequentar pessoas, frequentar situações, frequentar cheiros que não combinam. e que espetam. e que fazem você sentir que não fala a mesma língua que o resto. não busca a mesma coisa que o resto, não gosta da mesma coisa que o resto. que você não cheira que nem o resto. nem fede que nem o resto. não: você fala numa língua muda, cheira um cheiro estranho e fede um cheiro bom. você não combina. não se sente mal por isso. apenas sabe.

rosa é metáfora pra comodidade. você sente aquilo tudo e sabe que dói. sabe que poderia ser diferente. sabe como mudar. sabe os mais longos e mais curtos caminhos de mudar e melhorar. mas, mais que tudo, sabe que não quer nada disso. não quer fazer o que você faria em momentos sem rosas mal espetadas. não quer mudar a situação. isso te distancia ainda mais, e isso espeta ainda mais. mas, você já se acostumou com a dor, que já nem está mais, assim, tão doída.

rosa é metáfora pra afogamento. afogar-se das insatisfações e das comodidades só fazem você criar um mar poluído e negro e abrir a boca pra que a água te encha os pulmões. não se identificar com merda nenhuma do mundo e não querer que isso mude só faz que você não se importe mais-ainda e que não queira mudar nada mais-ainda. num afogamento mais-ainda que se retroalimenta, se eterniza. e te espeta.

espetar é metáfora do não saber. não saber de quem você gosta. nem saber se gosta da pessoa. nem saber quem é ela. ou se ela é como você quer. ou se, mesmo não sendo, se o que ela tem é o suficiente pra ser gostada. ou se você gosta mesmo é daquela que fede e cheira que nem você. ou se gostar de alguém como você te faria menos somado. você não sabe o que sente. não sabe o que é sentir. não sabe medir. não sabe expressar. e pior, não sabe conquistar sejaláoque-em-queintensidadefor, de volta. você não sabe gostar e nem ser gostado. mas, mais que isso, não sabe se quer e se gosta e tudo isso numa retroalimentação eternizada e espetada. sendo que você sabe, que aquela outra mais igual você, espetaria menos. mas, mais que isso: você gosta de ser espetado. é um sangue sutil que se vê e que se comemora. você sente um prazer maldito em sentir dor. você é ridículo.

ser espetado é receber um telefonema. de quem não sabia que você tem chorado lágrimas de semáforos estrelados. de alguém que Algo o fez sentir que ele precisava falar com você. esse seu irmão te liga e você fica certo de que foi sua mãe, preocupada, quem o mandou te ligar. mas ele ligou despretensiosamente e dá até dó de ele ouvir minha voz de choro. mas eu chorei de novo dizendo "não tem nada não" e me botei a limpar rápido meu rosto que se derretia, como se ele pudesse me ver. dizia a ele das rosas da minha vida, das rosas na faculdade, das rosas nas amizades, das rosas dos livros e dos filmes, das rosas da avenida paulista, das rosas dos corações. e dizia dos espinhos das rosas, das rosas que me espetaram a euforia, espetaram a amizade, espetaram a minha busca pelo evoluir, espetaram meu coração. espetaram a rosa que eu era.

e enfim eu senti um dos espinhos sendo tirado de dentro de algum lugar antes espetado. e meu sangue que havia pingado voltou a circular duma maneira persistente dizendo para que eu não desistisse e escutasse bem o que o outro lado da linha tinha a dizer. e eu descobri. descobri algo lindo e florido e orquídeo.
descobri que um desequilíbrio permanente pode se mascarar de equilíbrio. porque está se afogando em e quase dado como morto, e morte é, de certa maneira, equilibrada.
e descobri que para se encontrar, novamente, o equilíbrio, é preciso desequilibrar esse desequilíbrio. e esse ato de desequilibrar é que espeta e sangra.
e descobri que "eu estou mudando" nas palavras dele, e isso me soou bonito e doído e maduro e infantil ao mesmo tempo que eu chorei de orgulho de mim mesma. ele disse que eu estou chorando porque estou aprendendo que a vida não é feita de abraçar emoções intensas sempre. e que eu estou aprendendo isso, e isso me enfia um espinho tão grande na minha intensidade que sempre abracei que meu corpo emocionado e triste se põe a chorar, se despedindo de quem eu era.

terça-feira, 22 de junho de 2010

cantam ao contrário

Sabe quem?

Quem sabe o que é perder e ter alguém?
Dor a sente que dorei
Quem sabe o que é partir quem se quer ver?
E não ir pra onde ter

Faz tanta falta te esperar, teu amor
Não sei ter sem te viver
Não dá assim pra ser mais

Quem sabe o que é querer sem ter pra si?
Não quer mim outro em ver
Não é do que eu deveria falar
Pra ser feliz mais alguém


-H. Los, "Quem sabe"

segunda-feira, 14 de junho de 2010



Que paixão e medo se parecem.
Ciúmes e paixão se parecem. Ansiedade e paixão se parecem.
Insônia e paixão. Dor e paixão. Euforia e paixão.
Nirvana e paixão.


Todos fazem meu coração gingar sempre no mesmo batuque. Meu rosto enrubrescer sempre no mesmo tom.
Meu olhar desviar sempre pro mesmo lugar nenhum, até se fechar
e me permitir sentir batucando,
enrubrescendo,
desenxergando,
nirvanando até que tremo
tremo em febre; tremo em medo; tremo por me mexer
e entorpeço
Atinjo o topo, me sinto o topo, me sinto apaixonada. A própria paixão.

Abro os olhos. Olho pro lado oposto.
Sinto meu rosto azulescendo.
Desbatucando meu coração. Torna a batida tribal. Crescente, negra.
Bate, abre olhos; bate, desbatuca; bate,cai; bate, cai; bate,cai...bate,bate, parece que não, bate.
Adormeço.

Atinjo o fundo, me sinto o fundo, me sinto apaixonada. A própria.



amanheço.
a Paixão (mesmo) continua dormindo. Não sei como acordá-la pois tão logo sinto medo...e o medo me apaixona de novo e eu me entrego de alma e toda ela


para mais tarde me arrepender.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

do suicídio que

que é tão ao mesmo tempo
o máximo da coragem
quanto o máximo da covardia
de egoísmo
e de altruísmo

que é tão máximo
que é tão tanto
tanto poder
tão divino

que provoca, que ameaça, que ri, que mente, que cria, que transborda, que aponta com o dedo,que finge silêncio,
que silencia fingimentos.

que Deus, ameaçado, determinou
que fosse pecado.