sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Liberte


Nasce. Mal o homem desprende-se da placenta é involuntariamente exposto ao oxigênio e, ao inalá-lo, começa a perder seu comodismo. Surge no universo em um momento não escolhido, em um lugar desconhecido e de uma mãe aleatória. Usa roupas sem desejá-las e aprende o idioma imposto pelo meio. Começa a tomar consciência de sua existência e de tudo que lhe fora determinado: sente-se preso, sem liberdade.


Questiona. Busca maneiras de definir a liberdade. Divide-se, neste momento, dos desiludidos e persiste buscando, em seu currículo, suas vivências voluntárias e involuntárias. Ele percebe que jamais houve uma sociedade totalmente livre, por mais que os políticos regentes idealizassem-na. Assim como, em micro dimensão, nunca houve quem, com plena razão, declarasse ser livre, liberto, libertino. Ditadura, monarquia, democracia, socialismo, anarquismo: enxerga a liberdade sendo desejada e até vivida metonimicamente, mas que há prisão humana inclusive na anarquia.

Revolta-se. Supõe que não haja, de fato, a liberdade no auge de seu significado. Em grande escala, sociedades são gradualmente livres e por mais que um sonhador intitule-se livre, o faz por não perceber sua diária opressão. Não pode, por exemplo, exigir uma política anárquica em meio a democratas que seria imediatamente silenciado e oprimido.


Lembra-se de ter lido Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski, e de ter se identificado coma visão do autor: existem pessoas ordinárias, comuns, sem a liberdade de fazerem o desejado a qualquer momento, exatamente por serem ignorantes e inconseqüentes. Há, por outro lado, os extraordinários, os fugidos do senso comum, aos quais a liberdade oferecida é sensivelmente maior, permitindo-lhes, até, o crime da morte se em prol da paz comum.

Conclui, alivia-se. A liberdade é um conceito incomensurável e inatingível. O que existem são graus de maior ou menor desprendimento. No auge da liberdade, empiricamente inexistente, estaria um ser auto-suficiente, comandante, eterno. Esse ser receberia o nome de Deus. O homem inquieto não sabe, ao certo, medir sua crença em Deus, mas nada mais lhe importa tanto. Afinal, o que mais saciará a um homem, se este já se sente liberto com a resposta encontrada à sua busca faminta pela liberdade?