domingo, 21 de agosto de 2016

banquete

quero me apaixonar
poder te contar

cansei destes terrores impostos
dos jogos orgulhosos
do império da arrogância

quero a liberdade de amar
narrar sentimentos
variar em devaneios
suspirar em vernáculos

poderá ser cansativo, no início
talvez não te aguentes dos meus excessos
talvez isso, de mim e de ti, passe
minha insistente admiração e tua humilde impaciência

quando amei assim guardei em mim
do pouco que escapou, contei
retribuímos
vivi meus medos, cai
se riu

me arrependi
dei ouvidos aos julgadores
me conformei com as regras presentes
é repulsivo ser sincero demais, dizem

retrocedo então
à idade dos filhos meus que virão
fantasio no amor
por alguém a quem eu possa justificar
seja platônico, não me importo
jamais serão mortos meus sonhos

minhas declarações continuam desgarradas de coleiras
famintas pelo som do trinco
que se abre enferrujado
e do outro lado
há alguém sedento a alimentar essa fome

aprendi que preciso me conter
ter mais classe para abrandar os impulsos
é preciso dar lentas garfadas, dizem

sentada à mesa
o banquete não apetece
etiquetas não servem
som oco do estômago distorce a voz dos elegantes confessos
estariam todos alimentados ou gritam a disfarçar seus também vazios?