terça-feira, 18 de julho de 2017

só havia nós no mundo

Na mesma porta 
a todo distraído momento, espio através da fechadura

Querendo assistir a tudo de nós de novo
evitar de, lá na frente, duvidar da memória
julgar que fosse fantasia
já que não havia testemunhas

A humanidade ora dormia ora inexistia

Pela mesma porta adentro escorregam meus pés
Sugados pelo aroma
Contradigo-me
Armazeno vestígios em rolos de filmes
a fim de poder projeta-los no palco dos olhos fechados
enquanto o necessário era interditar a porta e tapar-lhe a fechadura com cimento
Matar sufocada a vida da humanidade que reside la dentro


sexta-feira, 14 de julho de 2017

pelas peles

Fujo pela porta daquela noite
a que me força a vestir uma roupa de sabor previsível 

Traje justo
Sob o qual todos os fragmentos de pele se amolecem pela ternura
E, conduzindo os pensamentos do dono, 
desconfiam ao mesmo tempo em que se derretem sob o terno. 

Arrepio
Gera-se calor que imita o frio, 
que este logo toma e entorna o corpo
Como tomasse de dentro de um copo 
fôssemos líquido censurado de fugir do continente, 
salvo em tremedeira do que o engole 
ou algo que desequilibre o ambiente

Do corpo, urge a permissão de assumir fraquejante a contenção
De ceder ao desejo
Encostar nos lábios do começo
salivar pela língua confessa

dilúvio de dopamina escorrendo em gotas pela espinha,
aquecendo o contorno da harmonia
Os pensamentos sozinhos sedosos e mansinhos
vestem o quarto, de dentro pra fora 
com vapores de amores 
certos, cruzados com 
errados

Meu pescoço torce, abre espaço para o seu casar
escuto por dentro o som que sai do seu ar
Mergulho em delírio sinestésico de deleite
seguido por um lapso de lúcido colete

É dor por pôr o vazio com o que lhe cabia
mas que decerto nos próximas cenas se ausentaria
mas (pele que cede após a primeira sutura, fecha pelo que é chamado de segunda intenção) 
mar de sonho naufragado em solidão
é um curta-metragem gravado em primeira intuição.