terça-feira, 17 de agosto de 2021

vinte e seis

 

Ela tem vinte e seis

Gosta de Jazz

É enérgica

Sente cólica

E tem cara de Marta


Essa cara que faz umas caras

que ele não gosta

ele também tem vinte e seis

Passa um furacão


Passa dois, passa três

Ela é de esquerda

pelo menos com certeza não votou naquele que não merece ser nomeado


Ela pedala livremente

mas como a queríamos tombada

esborrachada com a cara no asfalto hospitalar

que o furacão a retomasse de pé


Ela esfrega as mãos

nervosa, friorenta

pensa no café, já frio

enruga a testa, parece brava


Os olhos que sobram da face mascarada

são também cobertos por algum véu

que se mexe rápido demais na ventania

às vezes expõe demais

às vezes recua demais


Dói quando ouve que dá medo

assim como lhe disse sua mãe e um garoto da escola

engole saliva amarga com gosto de choro

que fica doce eventualmente


Não sabe o que sente

Não sabe quem é

Não sabe sobre essas tais das relações

Não sabe de nada

nem mesmo quanto vale a vida


Essa vida de merda, ele diria

ela

ela não sabe nem responder