sábado, 27 de dezembro de 2014

Vizinhança

 encostar a mão sobre um rosto úmido, 
de cheiro nunca antes experimentado, 
cujo coração samba sobrevivente, 
em que a temperatura é da vida que de dentro exala;
pode ser só um movimento, pois a mão não está tão assanhada assim, 

No movimento pode haver um portal

 mergulhar em universo que esta logo aqui, 
bem na frente, 
nesse universo paralelo que é a essa vida ao nosso lado. 
Vida esta, às vezes amarrada, às vezes deitada, às vezes entubada, às vezes nos olhos da senhora que entra no metrô carregando uma mala  - ou uma idade- acavalhedorura; 
noutras mugindo, florescendo, orbitando, brilhando ou até big-bangando. 
A vida está ao nosso lado, e ela pulsa, faz febre se há algo errado, reabsorve os nutrientes da folha antes de ser eleita por outra que mora logo ao lado. 
Toque, calor, flores.  




quinta-feira, 29 de maio de 2014

não sei se a autora sou eu




a dor de perda é dor imensurável
inimaginável enquanto se antecede a ela
dilacerante, teatral, só na boca do estômago, só na roupagem, em toda a alma, 
ou toda dento do bolso da frente da camisa que a moça já desceu pra lavar

pior ainda é quando é uma dor-sem-dor
perda-sem-saber
ida-sem-ser notada
fugaz como o desabotoar da camisa e seu destino a girar e ser lavado na água

e deve mesmo, ser lavado
de preferência, sem que seja na impessoalidade da máquina de lavar roupa
e da mocinha que tem trabalhado aqui há um tempo

dor é pra lavar no tanque.
é não desperdiçar sabão
é não desfocar da dor
segurar bem forte a camisa
mirar a mancha
e esfregar, um atrito e um carinho

notar a cor que escorre da água:
essa se contamina em sacrifício a seu desejo,
enquanto você não sacrifica muito quando limpa por querer limpeza em troca

uma perda.
sofrimento algum faz sentido do qual não se tire algo de bom
que se torça o pano até que as últimas gotas desçam pálidas.

O oceano, logo logo, se recicla.


segunda-feira, 7 de abril de 2014



 pegar meu copo para enchê-lo, antes mesmo do meu último gole da cerveja
reparo como você segura o copo, assim, como se segurasse meu corpo
me entorna


Crises vão e vêm
Com nossos amigos também.
Jamais é hora para abandona-los porque está difícil.

Se nosso amigo nos reserva um desafio,
deve ser um dos melhores do mundo.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Obrigada mesmo assim

Esse olhar seu não me ofende,
nem quando você o faz à distância da sua distância.
Eu não traí a causa,
nem pense em pensar nisso.
Eu disse amor, sim.

Eu sei ser legal,
mesmo quando as coisas não estão tão legais assim.

Procurar serenidade na severidade.
A luta interior, Jihad, contra uma força severa, gera força interior.
Quanto mais intensa uma, mais intensa a outra.

A melhor das lutas: aquela que nem requer tanto esforço
De repente, as memórias ruins se vão,
a dor anestesia,
o término se justifica,
o otimismo cresce.
Eu disse amor, e amando me mantenho.
Agora que perdoei e acordei
só sei sentir felicidade.

domingo, 30 de março de 2014

Tintura de ópio

Elixir paregórico
ecoa  na tarde de domingo,
mesmo que não faça aparente sentido.



Inspirador:
Inspira;
Ins, por ser do lado de dentro plurais
Pira, pela papoula toda

Pirador
Anestesia a dor

Paregórico
Alivia a dor

Que pirado! Tudo porque ecoa
e coa.

omedicamentoécontraindicamdoemcasodesusspeitadeceticismo

segunda-feira, 24 de março de 2014

Cresce se

- Mas há chuva! Ela está se esforçando para me alcançar com seu som atravessando concreto.
- Mas e se e se e se?
- Se muitos ses que pra que sês? 


Início do vigésimo quarto Outono
Mais um pra coleção de Presentes

Hoje é meu aniversário!

Enquanto escrevo, continuo dentro do meu carro,

dentro da vaga - que logo hoje foi difícil demais estacionar - 
dentro da garagem
dentro do meu prédio.

Antes de abrir a porta do carro e seguir para o carro-elevador-apê-jantar-chá-dormir, 
acabei prestando atenção nos objetos daqueles que abandonamos no painel, no console, na vida.

Foquei em dar a tudo um rumo. Meu lema era lhes dar um bom e digno destino.
Quando me dei conta, minha respiração ritmicamente serena.
Em minha cabeça, pensamentos simples se formavam inspirados no que eu segurasse.
Tudo começou a me abrandar.
Cheguei organizar, também, em minha mente, meu dia.
O que passou, o que quero fazer amanhã
O que quero contar a quem estiver lá em cima no apartamento.
Quero falar de coisas boas.

Nessa hora senti uma harmonia bem objetiva, menos mirabolante que nossa feminina mente, e mais masculina, de carro constantemente ajeitado. Eureca desse belo hábito tão bem mantido por muitos homens dos "tais" carros. Mulherada curtindo, inconscientemente, não só os caras, nem só os carros. Entrar no carro-da-mente-limpa é afrodisíaco!

Pensei nisso e ri,
e assim que o som da minha risada acabou, eu escutei.
Há uma deliciosa chuva caindo lá fora.
- Mas estou dentro dum carro dentro da vaga dentro da garagem de dentro do prédio.
Não gosto muito dessas coisas de Céu recortado por amontoados prédios,
quem me conhece já ouviu minhas odes dessa Natureza.

- Estou exatamente onde eu devia estar. 
Melhor desligar o rádio, agradecer pela chuva e por todos os Amores
Dores
Água

Empatia
Gentileza
Paciência
Chances
Insights
Conversas inspiradoras
Carências - me desculpem os magoados, logo hoje.


Obrigada por mais esse ano de vida,
Com esse Dia Presente tão intenso quanto uma Vida inteira.

Obrigada pelas Lembranças,


Obrigada, Presente, Fé
É TUDO,
escuta bem,

SINÔNIMO.



20.03.14



sábado, 15 de março de 2014

 Sentir falta é quando a ausência ressalta um buraco vazio.
Saudade é quando a memória faz a ausência passar por presença.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Pi Ri Rili Pruuum Pa bum Pa

Parei pra refletir onde foi que a palavra "conexão" perdeu sua brilhante importância. 
Tá todo mundo conectado, conectando...com o que? 
Em qual dimensão?
Quem se lembra de como é que fazíamos pra conectar, antes do barulhinho da internet discada? 
Do valor de um aperto de mão, de uma conversa em que se olha, de escutar uma conversa que parece desinteressante, de se esforçar pra entender um chinês falando inglês há menos de um mês?
Acredito que todos sabem do que estou falando, talvez só tenha ficado latente esse poder de nos conectarmos. 
Sou otimista, 
tudo o que é latente pode germinar!

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Ontem foi um dia complicado.
Que a vida é como ondas que vão, vêm, ressacam, acalmam, tsunamam, dá pra entender.
Mas a real é que, por mais que eu lembre "ontem foi maravilhoso", não basta eu tentar lembrar como estava meu espirito e minha paz, e tentar reproduzi-lo. Ontem foi ontem, hoje é hoje.
Precisa de algo mais do que memória, algo que desloque. Que acorde a energia e que iniba a tristeza, ...
a revolta, a polêmica que atingiu nossos ouvidos.

Meus recursos geralmente se resumem a: rezar (que, na real acho mais fácil pra agradecer, enquanto feliz, do que pra choramingar e reclamar das injustiças), escutar uma boa música (que as vezes confundo na escolha de ser mais agitada ou mais melancólica, e posso acabar acentuando a confusão), me exercitar (suar, pensar no equilíbrio, liberar endorfina...sempre delicioso, mas à meia-noite de ontem não dava), meditar (esvaziar a mente, concentrar no corpo e na respiração). Tentei alguns minutos de cada, mas meus pensamentos não iam embora.


Aprender sobre a origem da vida, sobre a geometria perfeita, sobre quão simples pode ser mudar a chave do nosso humor, me transborda uma energia pra querer MUITO sobreviver, ser feliz, ser saudável, ser maravilhosa, ser linda, ser mais, ser HOJE, ser sempre, ser pra mim, ser para os outros, ser espírito, ser una, ser todos.
Ser Ser, Amor. E dividir.
 
 
Estou perdidamente apaixonada:
 
21.02.14
Programa digno de uma cheia Lua do Valentino.
Esse Valentino não tenho muita certeza de quem seja, mas depois de ele comprar estoques de neve que caíssem sobre minha janela, cancelar minha viagem do feriado, carinhosamente deixou na minha carteira um ingresso de cinema e um vale-salaaaaada. Assinou embaixo dizendo "Have fun". Depois de entrar no cinema, assistir a um excelente filme em preto e branco chamado Nebraska, fui comer uma salada mexicana, num lugar maneiro que dá vontade de dançar e mastigar ritmicamente.
E não foi no filme, tampouco sobre o luar. Foi no Starbucks que me veio a vã filosofia: "Dois dedinhos de pinga estão para Caramel Macchiato, assim como nossos botecos estão para Starbucks."
Há cinco minutos sentada, esperando o busão 42, em volta de mim há pelo menos cinco (juro) diagnósticos mentais diferentes.

Enquanto começo a tomar nota, eis que começa a tocar "eeeexte samba que é misto de maracatu, é samba de preto velho samba de pretu tu", eu dou uma risada, controlo pra que não seja muito alta, vai que alguém tomando a mesma nota escreve "seis diagnósticos diferentes". Meu Chai fica ainda mais sonoro quando o cara que antes sorria ininterruptamente começa a falar sozinho, claro que educado como os americanos, auto-conversa baixinho.
Então ele diz:
-Banana!

E todas as moças do caixa repetem a palavra e começam a fazer barulho de selva, puta que pariu!!! Que foi que eu comi naquele mexicano? De repente entrei num filme do Buñuel e to fazendo parte do script.

Por fim, moça solitária que observava de bastante perto a chinesa jogando game boy, então, se despede enquanto eu inicio uma conversa com o jovem negro ao meu lado, nascido na África, morado na Arábia Saudita (conversou em árabe como um nativo) e na Índia (onde aprendeu inglês, como um nativo) e que agora estuda Políticas Sociais e Econômicas e espera os amigos atrasados pra balada.
Alguém pode me preparar um Macchiato com dois dedinhos de anti-cogumelo?
Valentino escutou meu pedido, chegando na Gerry House a banheira estava cheia, água quentinha e, ao lado, uma sopinha de clam chowder da Cafteria.

Valeu, Val!


14.02.14
 
-Você e ela vão se encontrar, e se saber, também. Deve ser tão simultâneo quanto aproximar-se do espelho: opostos, idênticos, equidistantes (...)

- (...)distância pra não se quebrarem, né?



13.02.14

Vento-tempo

A vida são páginas que é o vento-tempo quem se encarrega de folhear,
a sua moda aleatória.
Sorteia o capítulo a seu livro-arbítrio.
E a gente nem se da conta de estar lendo a própria existência em páginas numeradas e desordenadas.
Tem tanto nome de personagem que torna impossível prever quem deles talvez continue até o final da história.
(Que final?)
 




 "Toda estória pode ter feliz seu final;
basta, primeiro, apaixonar-se, escolher e arrancar sua melhor página....

Em seguida, pode-se anexa-la à brochura final,
inicial,
usa-la como marca-páginas.

Caso surja página melhor, a antiga funciona bem como mata-borrão."

 
08.02.14

Dez minutos excedidos de Bubbaloo

Quem dera eu pudesse soubesse
Deixasse ser
O minuto
O segundo
A amizade
O amor
O sabor
Fosse eterno ...

Enquanto breve
E quanto ecoasse
Em forma e forma boas lembranças.

Não haveria eu de tentaria prolongar
Esticar
Ampliar
Falsificar eternidade.

Aquele já ditasse e todos ouvíssemos
"eterno enquanto durasse"
Não enquanto inventasse.

Viveria com menos atuasse.
Viveria com mais presença.

Viveria
E somente.
Só mente e sem mentisse.

Intrínseco agradecesse,
imprevisível retornasse.

Contentasse com o que fosse, como fosse, tempo fosse.

-Amor amigo tempo, me entrego. Tenha-me na tua natureza, e não a tua na efêmera minha. Há Deus.
 
 
02.02.14

Super Moon

Quando fechados, fica tudo preto;
se apertamos um pouquinho, criamos estrelinhas e névoas.
Assim, sob a metáfora mais linda, nossos olhos foram então planejados e construídos:
sempre que fechamos os olhos, mergulhamos no Espaço!
 
 
Encontre sua Lua
 
 
 
 
Pinte de laranja

24.01.13