Me restam pequenas casquinhas
Respirar
Esperar
Escondidas na raíz da coxa
marcas suas
cicatrizes minhas
Fosse criança, arrancaria a ver ressangrar
Fosse curiosa, comeria a descobrir o sabor do próprio sangue
Se passo a unha onde antes arranharam as suas
A casquinha teima em ceder
E quando cede,
embaixo há uma pele muito clara, muito virgem do sol quente que me empurra da cama
tão cedo
O que será dessa mancha ainda despigmentada
Representação do espaço que nos foi colocado
Estaria ela preparada para a claridade
Posso ouvir a passagem do tempo só de olhá-la
Me agarro às sobras de sangue seco e endurecido
Contemplo, celebro, lamento, relembro
Respiro
Espero
Ocupo
Desrespiro
Desespero
Desocupo
- Tira isso da boca, menina
Não se pode comer o próprio sangue
Mesmo que seco
Ferida é pra deixar estar
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