domingo, 20 de dezembro de 2020

casquinha

 Me restam pequenas casquinhas


Respirar

Esperar


Escondidas na raíz da coxa 

marcas suas

cicatrizes minhas 


Fosse criança, arrancaria a ver ressangrar 

Fosse curiosa, comeria a descobrir o sabor do próprio sangue 


Se passo a unha onde antes arranharam as suas

A casquinha teima em ceder

E quando cede, 

embaixo há uma pele muito clara, muito virgem do sol quente que me empurra da cama 

tão cedo


O que será dessa mancha ainda despigmentada 

Representação do espaço que nos foi colocado 

Estaria ela preparada para a claridade 


Posso ouvir a passagem do tempo só de olhá-la

Me agarro às sobras de sangue seco e endurecido 

Contemplo, celebro, lamento, relembro 

Respiro

Espero

Ocupo


Desrespiro 

Desespero 

Desocupo


- Tira isso da boca, menina

Não se pode comer o próprio sangue 

Mesmo que seco 

Ferida é pra deixar estar

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