quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

nunca nem vim

estou brava 

mas te agradeço 

por me ensinar algo que ainda hoje não sei o que é

mas sei que aprenderei 


não só graças a você 

graças também a mim 

e graças às leis de Deus que invariavelmente nos empurram à evolução 


obrigada por me mostrar que mesmo na minha perfeição, jamais serei perfeita 

que mesmo me esforçando em não me revelar prontamente em sombras e luz

mesmo assim

não significa nada, nada está posto

ou garantido

ou previsto


Não te controlo

Não me controlas 

Não te tenho 

Não me tens 


Sou quem sou

Mas te mostrei só um pedaço 

Pensando que te agradarias 

Que ficarias 

Que pedirias pra ver o que ainda não mostrei 


Mas você se foi 

Porque afinal 

Eu nunca nem vim

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

não


não nos apaixonamos

não nos amamos

não namoramos


beijamos 

combinamos

falamos

rimos


sobretudo

foi no respeito

que se ergueu o pilar da leve relação que existia, mas


se é suspenso o respeito 

está suspeito todo o resto

não pt. II

não estava apaixonada 

não alimentei fé

tinha fé em você e em mim, individualmente, mas


segui imersa em meu genuíno estado de Amor

torcendo por um amor iniciado-não-vivido

(mesmo não sendo meu, é Amor do mundo 

então é meu também

ou é em mim) 


o vidro se quebrou

não houve ventania alguma

não fossem as lembranças da nossa conversa. 


tropeçaram suas atitudes nas palavras

a dança desencontrou o corpo da música que tocava lenta

de repente era um vazio nomeando o novo espaço que começara preenchido. 



terça-feira, 22 de dezembro de 2020

perdi o apetite

me servi do teu banquete sem fome, sem gula. 

claro, me apeteciam algumas frutas suculentas, 

alguns pães frescos, 

caprichos que eu nem sabia o nome. 


fui me servindo à medida que te servias, 

sem tantas assincronias.


Não quis te devorar 

Não quis ser devorada 


a decepção cala o prazer no instante em que me sirvo, sedenta,

de um caju reluzente, colorido, hígido

precipita em minha boca seu sabor, 

cria-se em minha mente não uma eternidade de cajus, 

somente esse caju, 

essa rodela que pretendi destacar. 


mas a faca não serra 

é de plástico o fruto


quem faz isso? 

engana com plástico em meio a sabores verdadeiros? 


pois cruzei paralelos os talheres sobre o prato 

perdi o apetite

domingo, 20 de dezembro de 2020

casquinha

 Me restam pequenas casquinhas


Respirar

Esperar


Escondidas na raíz da coxa 

marcas suas

cicatrizes minhas 


Fosse criança, arrancaria a ver ressangrar 

Fosse curiosa, comeria a descobrir o sabor do próprio sangue 


Se passo a unha onde antes arranharam as suas

A casquinha teima em ceder

E quando cede, 

embaixo há uma pele muito clara, muito virgem do sol quente que me empurra da cama 

tão cedo


O que será dessa mancha ainda despigmentada 

Representação do espaço que nos foi colocado 

Estaria ela preparada para a claridade 


Posso ouvir a passagem do tempo só de olhá-la

Me agarro às sobras de sangue seco e endurecido 

Contemplo, celebro, lamento, relembro 

Respiro

Espero

Ocupo


Desrespiro 

Desespero 

Desocupo


- Tira isso da boca, menina

Não se pode comer o próprio sangue 

Mesmo que seco 

Ferida é pra deixar estar