terça-feira, 17 de outubro de 2017

doença do refluxo gastro-cardíaco

Me nauseia
Teus resíduos persistem em meu ventre
ascendem, de tempos em tempos, como eructação ácida de amor
Arroto, mas me escuto soluçando
- será um choro?

Me permiti a uma dita dieta depois que nos fomos
Fiquei restrita àquilo que diziam desintoxicar, aderi ao jejum intermitente
Devorei gente nova, engoli sapos e ar
Traguei personalidades tão diferentes e tão parecidas com a tua
Pensei que, aumentando meu trânsito interno, te eliminaria mais rápido

Pensei em tanta coisa
de pouco ou de nada se valeu pensar.

Enquanto percebo quão presa me tornastes, me arrependo de cada mordida 
de cada gole que dei, sedenta
da gula que tua presença me causava
dos litros entornados da nossa história
cheguei a me banhar do mesmo jarro
e ainda encontro trechos de pele e lábio úmidos

Tento provocar o vômito
Com o dedo, com as unhas, me dediquei a te desacoplar de minhas células
Nem o ácido te corroeu de dentro de mim
- será um câncer?

Claro, passo semanas sem notar que moras aqui
distraída nos encantos e nos afazeres da vida
Se escuto teu nome, apresso em fingir que não me importo, que não me dói
Mas você, dentro de mim, tem os ouvidos apurados
e se mexe quando te chamam
revira minhas vísceras, perturba meu peito 
Quando acho que é gastrite
- será você?

Quando provei, o sabor 
deste amor era de 
amoras maduras
Era de se impressionar tamanha doçura
- seria a doçura oriunda da própria boca que mastiga?





Hoje acordei com teu nome
Passei o dia querendo vomitar
mas passei também com fome.



segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Os três (ou mais) lados da balança

Constantemente dos extremos, tendo a maior satisfação e conforto nas opostas zonas

Saltar do céu ao inferno mil vezes em um dia
Carregando na cauda a ressaca para o próximo
Introspecção no quadril da exaltação
Assanhamento no rabo do isolamento

Ao invés de pender pro meio, pro equilíbrio
segui compensada pulando de um a outro lado da balança
apressada em não compreender o meio termo 

Hoje, tenho me perguntado se é isso que quero
Pois me desorganiza; me satisfaz, deixa em transe
mas pouco me mexo, pouco evoluo, rastejo em pulos

Passo tanto tempo a correr dum lado a outro que o tempo está passando e ainda falta ir pro outro lado e voltar pra este como numa equilibrada ordem inflexível, desarmoniosa 

To pensando no que posso abdicar 
Talvez, só talvez, e vai ser difícil pois até hoje não conheci o que é isso,
eu possa abdicar de grandes paixões pra viver amores e paz.
Tanto no coração quanto na vida.
 morna terna paz

(soa tão extremo) 
Às vezes a gente cresce, às vezes ainda é nossa mãe quem nos compra um novo par de meias.
Tem dias que a gente se sente carregando a própria vida, 
e  outros que a vida é tão leve que 
flutua 
dentro dum balão 
enrolado em nossos dedos. 

Ainda chamo minha geração de “aquele menino” ou “aquela menina”, 

difícil entender que nossas peles já não tem o vigor do adjetivo. 
Talvez, não às vezes, mas sempre, o que prevalece é a alma
que não envelhece 
não morre
não involui
não cansa. 
Que possamos todos levar em nossa alma o espírito amoroso, curioso e brincalhão de uma criança. 
E quanto às meias, bem...usemos aquelas nos forem confortáveis, sempre lembrando de secar bem entre os dedos