quinta-feira, 4 de março de 2021

uma carta

 
Hoje tomo fôlego, sem tanto esforço quanto tentei tomar nos últimos dias.
Acabo de ouvir de um professor que nós digerimos questões psíquicas de forma parecida ao nosso trato gastrointestinal.
Então te digo que desde dezembro eu fui exposta a muita coisa, pouco a pouco digerida. 
Aquilo que me nutre fica, o que não nutre, sai.

Teve hora que tomei veneno, mas o veneno me nutriu
Teve hora que tomei um doce suco de laranja, mas que tão logo amargou a boca.
E hoje tentarei enfim te mostrar as partes que já enxergo.

Sobretudo, algo foi visto. Pude ver, desde então, em mim e nos meus padrões, processos dos quais gostaria de eventualmente me despedir - mas primeiro preciso aprender a lidar com. 

Tamanho foi olhar atencioso que venho podendo repousar sobre mim, que parece que desviei o olhar que era até então para fora, de volta para dentro.
Assim, venho vivendo meu mundo interno com certa intensidade nas últimas semanas.

Fico brava comigo mesma porque não estou mais fazendo meu zazen diário, sei que isso é parte da resistência, parte da anestesia que procuro (mesmo não querendo procurar).

Parte dessa resistência vem porque me percebo tendo tanto a melhorar que assusta. Que freia, que aperta pra voltar a fita. 

O que não deixei de lado foi meu anel, minha aliança que comprei para simbolizar um acordo comigo mesma. Na aliança está escrito Aterra 45°.

E é nessa terra que agora me encontro.
Convites como o céu/seu que pedem que meu olhar se eleve, encontre o outro, por enquanto, não está saindo. Logo logo deve sair, mas sei que ainda está como que um imã sendo puxado ao solo.

Quero dizer com tudo isso que nas últimas semanas tenho dado menos conta de demandas externas. Estou mais distante, mais pra dentro. Meu coração foi recentemente abalado por algumas situações. Em outros momentos esse mesmo coração bate forte em situações aleatórias, como se eu fosse invadida pela alegria de alguém que pensa em mim. 

Tem um banquete me sendo oferecido pela vida. Mas ainda estou dando um gole e uma beliscada por vez.

Um dos pratos, assim que dei uma garfada, me pareceu tudo normal. Logo, passei a digerir algo dela, difícil de digerir. Ainda não sabia dar nome, talvez eu ainda não saiba. Mas combina certa angústia com outros sentimentos também.

Me vi num lugar familiar, me vi vilã, me vi vítima, me vi fria, me vi raivosa. Minha parte mais externa vibrou contente com quando podemos nos desamarrar de amarras por vezes colocadas, noutras por nós escolhidas.

O também familiar sentimento de culpa trouxe uma paralização. Me vi vulnerável se qualquer passo fosse dado. Como que eu "não queria ver com meus próprio olhos" os fantasmas que estavam então se formando.

Não queria ver o fantasma de um encontro ser indigesto. 
Não queria ver algo que até então não vi. 
Não queria ver o óbvio e nem a ilusão.
Fiquei constipada, e ainda me sinto assim em alguma medida.

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