terça-feira, 10 de maio de 2011

outono imperador

O coração sofre uma espécie de cãibra,
deve ter papilas que tornam a dor pensada em dor ácida e deixa o corpo todo doído.
É que chegou, imperativo, o desespero.

Desespero de quando a casa vazia, de repente, se lota.
Crianças, portas batendo, cochicho, fazer café, colocar fronha, sorrir, presentes, conselhos, conspirações, tevê ligada, ninguém assistindo, gente falando, ninguém escutando, cantos da casa bem por apanharem um bando de gente.

Desespero de quando todos se vão.
Quando tudo retorna ao silêncio, ao estático e sombrio e vem a vontade de fazer bastante café. Vai que voltam.
Talvez o melhor seja, mesmo, lavar a louça, empilhar os copos que vêm em conjunto de doze, guardar os colchões, descer do sótão, olhar no relógio que pisca vermelho, carente e triste no ultrapassado aparelho de vídeo cassete.

É que chegou, imperativa, a hora de se esconder do silêncio, que antes de rompido era até tão bonito.