quarta-feira, 25 de novembro de 2009

sábado, 12 de setembro de 2009

meu medo é mudo

-E o seu? Qual é seu medo?
-Tenho um pesadelo recorrente. Sonho que fico muda. Desde pequena.


Este é um texto atípico. Este é um querido-diário. Este é um são duas da manhã e eu quero gritar, mas são duas da manhã.
Que fossem duas da tarde, eu já não grito mais.
E é esse meu desespero, meu pesadelo de infância.

Meu pesadelo de incomunicação só não é o de ser surda, cega, gélida por que o único sentido que eu posso conhecer a mim mesma é pela minha fala. Eu consigo conhecer o mundo só com olhos, só com ouvidos, só com o tato, só com o cheiro.
Mas sem um espelho, não me adiantam os olhos. Meu cheiro eu nem sinto, tatear a mim mesma é tão metasinestésico que é em vão. Mas quando eu falo, eu falo e não apreendo nada do mundo. Eu não vejo se o que tem na minha frente é um prédio, não sinto se ele cheira a construção ou se sua parede é áspera.
Quando eu falo não me importa o mundo
Quando eu falo é egoísmo, é pra eu me apresentar, a mim mesma.

Me tirassem todos os sentidos, minha fala não. Minha mudez é
atrofia da alma que se diz estar em mim.

Esse ano eu tenho odiado meu guarda-roupa. Ano passado, mesmo com supraquilos extras, eu me virava e me vestia. Esse ano eu não me identifico com o que era meu. Tem algos errados acontecendo comigo, sei disso. São algos sérios, bons ou ruins eu não sei, mas são muito abaláveis.

A ponto de eu chorar por absolutamente tudo. Já tentei acompanhar meu ciclo hormonal pra ver se não é por isso que eu choro, nos cinco últimos dias do ciclo. Não, não.
Choro quando vejo a melhor cena que sempre amei, a de dois irmãos de mãos dadas. Chorei quando o Luciano Hulk (sim) entregou uma casa reformada pra uma família que adotou um moleque. Chorei cara, chorei esse ano. Chorei pela casa e pelo meu guarda-roupa, por motivos completamente opostos e idiotas.
Que merda ta havendo comigo?

Tem gente querendo tapar minha boca. Lá pros meus nove anos, não sei, quando passava Família Smith na Tv Cultura, eu sonhei que meu pai me deu um tapa na boca e minha boca sumiu.
O mundo tem dado tapas na minha boca toda hora, e eu cheguei ao ponto de...
Eu mesma estou dando tapas. Eu.

Estou enfrentando aquilo que sempre abominei: comodismo, preguiça. Não tenho achado, ou agarrado, forças para lutar contra minha mudez.
-Hein filha, você acha que te falta algo?
-

Eu estou aprendendo o maior pecado que minha alma diz, estou aprendendo o silêncio.
Fui acusada de histeria. De fato, EU COMEÇO A FALAR DESCONTROLADAMENTE NUMA VERBORRAGIA INFINDA PRA EU NÃO MORRER ENGASGADA COM MINHA NECESSIDADE DE FALAR.

Demorei pra começar a falar quando bebê, mas eu compensei quando cresci. Não é luxo falar, é necessidade.

E cada vez que você me fala e me manda ficar quieta, minha boca encrava tudo o que pensei em dizer. E um dia esse encravado inflama, forma pus e o pus explode e eu GRITO perco os sentidos, todos eles viram o sentido da fala.
Falar é minha sanidade e minha insanidade.

Mas eu só tenho ficado insana, e de insana, estou ficando muda!!muda, meu Deus!
Estou há tempos sem falar comigo mesma antes de dormir, sem fantasiar de sair voar com o menino dos meus sonhos, sem escrever uma loucura qualquer, sem escrever o que meu dedos sempre mandavam. Até meu dedos estão num período de entresafra, não tenho achado o princípio ativo e o tesão para escrever.

Basta que me abalem, num sermão de família ou numa tarde chorando na tevê para que meus dedos se apertem nesse teclado sem que eu perceba pra me dizerem que o dia que eles se sentirem abandonados,
eles é que vão apertar minha boca com muita raiva que eu me cale de vez.

Não sei quão perigoso isso pode ou deve soar, mas eu estou me mudificando.
e quero gritar por socorro, ou desistir.

domingo, 12 de abril de 2009

As três palavras: eu te desamo

Pronto, simples.
Todos deveriam de ter coragem de admitir.

Te desamo, porque cansei de tentar amar. O certo seria ser tentado a amar, não é?

Cansei de galicismos, de descartinhas de amor, de bombons de dessonhos de valsa.
Meu amor por você não é aceito no Mundo dos Amores, sei porque estive conversando com um real amante, com coroa e tudo.

Metáfora e síntese do amor é aquele abraço da garota e seu namorado. Aquele pulo, a maneira como ele a carrega, a maneira como ela dobra os pés, para que ele possa ergue-la
Ela de pernas dobradas, ele com o antebraço exposto e paterno. Ela com o rosto milimetricamente projetado para encaixar e mergulhar no ombro dele. Os dois sentem o perfume do outro, perfume que inclui desodorante e cheiro nato de cabeça. Para os amantes, o que fede lhes é perfume; o que lhes é perfume é quase imperceptível.
(Amor é o sentimento que...exatamente esse: dois pontos, ponto final, de exclamação de interrogação, reticencias. E, mais que tudo, é ponto e vírgula.)


Ele é protetor, ela é leve. Ele se equilibra em dois pés fincados, ela é meiga. Ele a ama, ela se equilibra sem pé algum no chão. Ela o ama, ele sabe; ela sabe.


Saber que ama, é quando se tenta expressar com palavras o que se sente, mas se acaba em um beco inexpressível.
O músico toca o tom que os amantes reconhecem, e na hora pensam “isso, isso é amor”.
Isso o que? O começo da música "Walk with you" do Dispatch? Duvido.
Um pintor plastifica o amor em uma tela, e os amantes pensam de novo...Isso! O que? Um borrão vermelho com um preto, um traço em tinta a óleo? Duvido.

Um perfume cheira a amor, um filme, uma pipoca, um canivete, uma rua, um sabor, um homem e uma mulher.

São todos pedacinhos do mundo que trabalham em equipe para nos gritar o que é amor, mas alguém nos fez surdos para ouví-los.

Também,perderia a graça. Graça de amar, ou de ansiar amar, é supor os sentimentos, é buscar uma definição, um sabor, um homem uma mulher.
Pois bem, se somos surdos, somos mudos.

Por isso que das artes, tentar dizer ou escrever o que é amor é a mais difícil, mais impossível.

O máximo que conseguimos fazer, bem, é juntar as quatro benditas letras,e dar um suspiro de alegria e...ou...e...de raiva logo em seguida.




Palavra de quem nunca amou,nem foi amada. Ou já, e nunca soube de nenhum dos dois.

Um segredo


Vou contar
de um a dez
e contar
um segredo:
tem pessoas que deveriam era se matar,

dentre elas: eu!


De Jáh a Yemanjá
façam-me dormir e esquecer os Platelmintos que comandaram a Revolução Russa dos planaltos sedimentares de um dos ecossistemas que faz jus ao bioma referido,
Nessa época em que tremas são ignorados e chamados de crase, onde qualquer um pode ser ex-escravo, onde tem quinze apostilas e cima da minha mesa com o nome escondido, mas eu sei cada uma quem é.
Porque de noite elas saem da mesa e me puxam dizendo "Faltou eu! Você não me fez"; e eu lhes respondo "Não é assim que se diz,é 'Faltou a mim' ", mas eu nem sei se isso é deveras correto.

Essas cobranças, piores que escambo de espelhinho, piores que desenhar o Cáucaso mais longe do que ele é.
.
Mas é assim a vida: no mar, não tem peixinhos...Tem poríferos, celenterados, plânctons, e pneus.


Esse era outro segredo que eu queria contar.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Miguilim quer contar História

Capítulo Primeiro - a melhor

Um jantar, aquele do tipo que mistura familiares fazendo jus à correlação sanguínea a outros que aparecem duas vezes em nossa frente: quando nascemos e quando ganham uma máquina fotográfica. Assim que a desembrulham do pacote, querem, tão logo, ter retratos espalhados pelo apartamento e, nada mais óbvio, que querem aparecer fotografados como alguéns caseiros, da família, amados e amadores. Pois bem: amadores; mas isso não vem ao causo.
Causo é que estávamos todos na sala de jantar, como em uma ceia. Eu tinha um incrível copo de vinho em minha frente, esquecido por alguma tia, e minha mãe não reparava que eu bebericava-o sempre que ela se distraia. A mesa de jantar suportava oito pessoas, mas sempre fazíamos sentar dez mais cada nova criança parida por visita. Ao meu lado direito sentava-se meu avô, e ao lado dele, a minha avó, e mais ninguém na mesa conosco. Ele vestia-se com uma calça de veludo marrom, na qual mal se percebia que tinha café derramado; e uma jaqueta jeans azul. Minha avó, engraçado, naquele dia ela não estava com aquele vestido de natureza morta e cheiro de natureza morta - não - ela estava com um conjuntinho de linha azulado, mas seu sapato era o mesmo marrom que combinava com o veludo e o café do vovô:
-Zezinhô, pega lá um copo d'água pra mim, Zézo? Pediu a ele, enquanto, sem perceber que eu os observava, acariciou o joelho de seu esposo. Ela deu um sorrisinho, poxa, tão espontâneo e tão forçado ao mesmo tempo.
-Eu... Titubeei por um instante que eu me encarregaria de servir minha avó. Fingi que não proferira a palavra e segurei a taça de vinho como se estivesse a observá-la há eternidades e profundidades. Por isso! Ela está vestida assim por isso! Ela aproveitou o dia do aniversario do vô Zézo para reconquistá-lo: seu conjuntinho tinha um cítrico aroma de natureza viva que eu não reparara.
-Eu... não devo - dialoguei com o vinho remanescente - Ele deve ir; ela não esta com sede de água. Ela tem vinte anos, e um coração cítrico a ser regado. Receber água é a idosa maneira de ela ouvir "eu te amo", e não sou eu quem deve dizê-lo, agora, o joelho não era meu.



O do meio - cágado

Férias de junho, São Paulo finge ser um país temperado de galicismos: poncho, cachecol, cacharrel, e quaisquer palavras com som de "ch", que pulam do dicionário só no nosso suposto e deselegante inverno. Ninguém da turma, a não ser eu e o H. saímos do rocambole de edredon, plenas 17:00 para conversar. Eu, ele e um celular éramos suficientes pra armamos nosso fim do dia. Ligamos para duas, ou três, que aparecessem na casa dele para "conversarmos", que se fosse sem as aspas, seria também sem a graça.
21:00 duas delas chegaram: uma para cada um 21:25 elas estavam embriagadinhas, e nós dois só alegres; 21:45 elas estavam de alguma maneira que nós dois já não tínhamos condições de relatar.
Minha jaqueta, blusa dela. Minha calça, calça dela. Calcinhas, soutiens, perfumes, laços, fios de cabelo, perfumes, perfumes, perfumes!
8:00 do dia seguinte, só perfumes e vagas lembranças. Lembranças? Dormimos num colchão no chão, na casa de madeira. Ela do meu lado direito, quando eu de bruços. Me virei, devagar, quis vê-la, não sabia como lhe dar aquele beijo de bom dia, o que lhe falar - eu mal a conhecia, eu a entorpeci desse jeito! Eu a conheci? Me segurei para não virar ainda, não podia me sentir culpado; nós dois queríamos, é, nós dois. Mas será que foi real? Minha dor de cabeça agora, poxa, não sei direito. Dane-se, vou virar, preciso vê-la, seus olhos verdes devem estar mais verdes com esse sol nascente.
-Não! Nao é ela! Seá que...eu realmente dormi com essa tartaruga? E a tararuga me olhava, sentada na almofada, seus olhos presos no mesmo ponto em que os olhos dela me olharam na noite anterior. Mas a tartaruga, olhando bem, a tartaruga também tinha uns olhos esverdeados, mas ela nao me parecia...
E aquela estória que ela me contou? Que a mae dela cantava-lhe "Boi da cara preta" em todas as cores para que ela nao sofresse de preconceitisse - e meu único comentario foi que ela perderia a rima - e ela me sorriu. Nao me parece que o bendito cágado me daria aquele sorrisinho de outrora, nao mesmo. Quero que nao seja, nao mesmo.


Último Capítulo - último

-Mãe, esse é o ultimo capítulo do trem? A menininha apontava para a placa de alguma estação do metrô.





Adendo: eu, por mim, me agarrava, colocaria pregos entre meus dedos e estes últimos dias de 2008: não quero as novas regras gramaticais! Dentre minhas paixões, tenho a de preferir "Estória" a "História", mas isso já é estória antiga na gramática. No título daqui, no entanto, "História" é um nome próprio, e ele bem sabe disso.
A que eu mais gosto é a primeira; e eu gosto mais é quando ele me conta as estórias....ai, historinha.