domingo, 27 de julho de 2008
Meia-Morte
"É. Nos é inerente o egoísmo.Acho que a essência do ser humano é,não só tê-lo como propriocepção,mas também ter isso acima de muitas outras....
Sei lá.
Lembra que em 7 dias completará um ano.Pois eu me lembro de até minha mãe (sim,aquela divindade que para nós é dos melhores dentre os homens..esquecendo que por isso é das egoístas também)...
Na verdade,antes dela,fui eu.Eu chorei por todos os motivos da perda...e não nego ter chorado por lembrar de como EU ficava na presença do Patrick.
Claro,chorei muito por ele.Pela dor que ele deve ter sentido,chorei pelo mundo que não mais o terá.pelos amigos,família, pelo Gonzo. Mas SIM,chorei por lembrar das MINHAS risadas.De como EU era feliz ao lado dele. Chorei pela Layla que morreu,pela Layla quer era.Pela Layla que o tinha...(ou se quiser, chame-me de Kibeey,como diria ele) e o pior: as lágrimas foram sinceras.
Daí chegou a minha mãe me dar apoio. Mas de início ela não foi uma humana(graças a Deus). Ela chorou por ele,pelos pais dele.Inclusive chorou muito por mim. Derramou lágrimas para que eu não tivesse que derramá-las. Mas todo esse momento de lucidez trouxe dor,e ela teve que voltar a ser egoísta para amenizar o sofrimento...:
-Sabe Laylinha,eu preferia nem tê-lo conhecido.Queria não ter passado momentos com ele,e assim criado lembranças que agora me vem a tona.
EU agradeço por cada lembrança que tenho da voz,do cheiro,do sorriso...Sou meio-humana...
Egoísta,porém sou feliz só por me lembrar dele.
Imortalizá-lo em meu pensamento.
Em resposta a ela:
-Não,Mama"(as lágrimas escorriam pela aorta).Eu amei tê-lo conhecido. Se não o tivesse tido comigo,mesmo que por pouco tempo,eu teria mais motivos pra chorar. E chorar de tristeza.
Não fui humana por um tempo.Pude escutá-lo em meu ouvidos me agradecendo...Por nada,só agradecendo.
e rindo,contando piadas.
Piadas eternas"
nota:eu adoro isso!Deus, como ainda me comove ler...Viu?é disso que eu falo! é de mim pra mim, choro comigo.
ps:agora,em Agosto, completam-se dois anos da morte de meu melhor amigo.da minha meia-morte
terça-feira, 15 de julho de 2008
(des)ENFEITIÇADA
Era num dia anterior à festa julina do Santo Daime,foi Ele quem me disse.
Tinha combinado,não com Ele, com Outro, de ir estudar no Centro Mágico,apesar de sua biblioteca estar fechada de segunda-feira.Sem maiores problemas ficamos na lanchonete,numas mesas bambas de madeira e as pessoas almoçando. Aliás,descobri que o almoço lá é o mais barato da região,tirando as regiões baratas de baratas.
Estudávamos história acho, ou sem saber talvez eu estivesse profeciando as letras da apostila de trás pra frente,invocando algum plano Imágico e Desenfeitiçado, paralelo ao nosso.
Porque assim, sem mais nem menos, vem um Ele, quase que em direção da nossa mesa,mas depois desistiu e sentou-se atrás,com o Pink Floyd, numa mesa melhor que as da lanchonete.
De primeira eu me lembrei muito de minha infância quando o vi, acho que tem traços de um ator americaninho sem graça. Mas Ele era mais baixo com cabelos enrolados. Assim, da aparência do meu irmão, reduzido de bons centímetros.
Quase nem me lembrei mais Dele, só que em algum momento que olhei pra trás, uma mesa das não-bambas-de-madeira estava vaga, e como num espasmo saí correndo pra lá,avisando meu amigo.Sentamos os dois,quando me dei conta da gentileza do momento ter me feito sentar de frente pro Ele.Ele não era sem graça como o ator americaninho,não mesmo. Era assim,um rosto, uma mão, um cigarro com café e um sorriso encravado.
Vez ou outra eu me encontrava olhando pra Ele.Não sei,quando eu comentava algo com meu amigo, de repente me achava olhando-O.Mas eu desviava numa vergonha absurda.Duas,três,foram até umas quatro vezes.Claro,como todo o sempre, me senti um lixinho sentado e olhando, parei.
Mas um momento, que Eu não quis que fosse algo "espontâneo", fui em sua direção e pedi um Cogumelo,e como uma meiga e necessária troca (não de matérias,mas de palavras), ele me pediu uma Maçaneta. Fui até minha mesa,e lhe trouxe o pedido, e a gente se agradeceu num mútuo momento de sorrisos desencravados e, pelo menos de minha parte, envergonhados.
[Fim, da parte um:o ver, o sentar-se próximo, o mudar o Espontâneo da vida (I)]
Formiguinhas me mandaram ir ao banheiro.Nem havia reparado, nesse meio tempo, a minha vontade do banheiro. Fui sem a mínima esperança de nada, fui passiva, quieta e apressada.
Claro que as mágicas não se encerram. No banheiro externo do Centro Mágico, há três cabines. Quando cheguei,éramos uma senhora, uma japonesa e eu em ordem para usar o banheiro.Deu que apenas um vagou, e a senhora entrou. E como as duas outras demoravam, a japonesa acabou sucedendo a senhora. Claro que comigo não podia ser nada em flores:fui na cabine onde a Louca, já conhecida da Vergueiro, estava. Não pela sujeira, porque eu me viraria, mas o cheiro, meu Deus! Que cheiro!
Foi ímpeto pra eu sair correndo, lavar as mãos e voltar pra minha mesinha estável.
No caminho da volta até pensei Nele. Pensei porque eu tinha frio, e me lembrei que ele vestia umas três blusas.Mas como eu já tinha pedido Cogumelo e o assunto acabado, não via meios de trocar outras palavras com ele, muito menos que pedissem uma jaqueta.
Mágico, no Centro, Ele anda em minha direção. -Não,nada a ver com o ator americano sem gracinha!
Pensei, que triste que ele vai embora.Mas antes de eu pensar o "embora" ele parou em minha frente e falamos algumas idiotices. Idiotices de minha parte, Ele falou algumas bonitinhas e inclusive propôs de sentarmos.
Conversamos sobre alfa e beta, reparando sempre que Ele esboçava um mágico sorrisinho, daqueles que dá vontade de guardar num pote.Tive que voltar a minha mesa pegar o celular mágico, e quando voltei, ele Ainda estava lá, e ainda sorria.
Resolvi que pegaríamos o Trem Mágico juntos, para Ele me desenvolver Direita e Esquerda, já que seu cérebro parecia carecer de trivialidades.
(estou meio desmotivada,não queria chegar ao fim belo e desbelo disso tudo)
Esperamos dois trens, e entre eles Ele anotou meu contato (eu BEM que devia ter recusado).Poxa vida!
Entramos no trem,e os do lado olhavam estranho ao nosso assunto. Assunto dele, Ele falava e eu concordava.Afinal, um assunto desleigo pra uma leiga...
Em Santana, ou no Carandiru eu tive que me sentar, estava farta demais.Ele se sentou ao meu lado.E terminamos a conversa.
Eu desceria na Parada Mágica, e Ele na estação seguinte. Ofereci um paralelepído mágico e saboroso antes que eu descesse, Ele aceitou.
Fui me despedir com um beijo.
Quando cheguei próxima,mas bem próxima e fui ao encontro de Nossos rostos, senti o INesperado;o DESesperado
O DESencantado, o DESmágico...o DESenfeitiço: Ele não existia,não passava de uma miragem do coração,da mente e do cogumelo.Meu rosto tateou o vazio,bateria meu rosto na parede.Ele era a fumaça do cigarro e da quentura de seu café.Isso, ele era uma fumaça de minha cabeça...
[Fim,da parte dois:o conversar, o sorrir, mudar o Espontâneo da vida (II) e o rumo da minha (I)]
Hoje acordei olhando pro celular,e percebi que tudo não passara,de fato, de uma miragem. Uma maldita miragem que quase.
terça-feira, 8 de julho de 2008
Camuflado
A morfologia, a tonicidade.O olhar da vida;todos obscurecidos por um muro e uma bunda.
Um muro azul,camuflado no céu.Azul com riscos prateados,camuflados de prédios.Com manchas cinzas camufladas de poluição. Um muro camuflado e invisível, que não divide a parte em dois,mas sintetiza o dois em um único e direito lado,o lado direito.E a bunda,com uma saia curta só para entorpecer. De noite a bunda com uma saia preta, de noite o muro enegrecido para uma mesma sintonia com a natureza.
E ele continua sem ver o muro,na mesma sintonia de um concreto.Um concreto mimético e maldito.Um muro que ele não quer pular,não quer porque não vê. Não vê porque não quer.
Ouse o outro,com uma colher e uma fé,relar no muro.Ouse!
Desse será tirado o pouco concreto ganglionado no coração.Não, na mente...não,na ponta dos dedos do pé.
Ouse esse rebelde sem causas exalar a bauxita de sua colher. Ele vê o muro e até vê a bunda,mas sem reparar se ela era jeans ao sol e preta à lua.Ele vê e engole sua colher,de maneira a sobreviver nesse mundo de muros e bundas.
Um muro azul,camuflado no céu.Azul com riscos prateados,camuflados de prédios.Com manchas cinzas camufladas de poluição. Um muro camuflado e invisível, que não divide a parte em dois,mas sintetiza o dois em um único e direito lado,o lado direito.E a bunda,com uma saia curta só para entorpecer. De noite a bunda com uma saia preta, de noite o muro enegrecido para uma mesma sintonia com a natureza.
E ele continua sem ver o muro,na mesma sintonia de um concreto.Um concreto mimético e maldito.Um muro que ele não quer pular,não quer porque não vê. Não vê porque não quer.
Ouse o outro,com uma colher e uma fé,relar no muro.Ouse!
Desse será tirado o pouco concreto ganglionado no coração.Não, na mente...não,na ponta dos dedos do pé.
Ouse esse rebelde sem causas exalar a bauxita de sua colher. Ele vê o muro e até vê a bunda,mas sem reparar se ela era jeans ao sol e preta à lua.Ele vê e engole sua colher,de maneira a sobreviver nesse mundo de muros e bundas.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Pesadelo de plástico
Ele diz que as flores têm gosto de morte.Eu digo que vida tem gosto, e por que não desgosto, de morte.
Ter uma família tem gosto de vida.Tê-la, sem, de fato, possuí-la ou ser possuído é morte.
Ter um bom amigo é vida;tê-lo afastado, por motivos alheios,me é a morte.
Sim,me é.
Ele disse que as flores de plástico não morrem:pessoas de plástico não morrem.Encapuçadas da direita,de barata,cheirando a polímeros,sorrindo de morte. Estes,não morrem.Morrem os bons,daí que a vida pros remanescentes é morte.
Morre a educação,morrem os livros,morrem os bons.Morrem as palavras,as letras, o sentido da vida.Morre o amor,mas que antes de morrer, mata os amantes.
Vivo por aí,vivo morrendo.Tirando a teoria de que o dia de minha morte será o dia de menor probabilidade que eu morresse, vou morrendo, no gerundismo abominável da vida.
Morri meu ontem, o ontem que eu queria ter feito.
Queria ter aprendido a tocar violão, queria ter comido pipoca doce e conhecido os dreads que dizem exalar cultura. Queria ter rido de uma piada que alguém poderia ter contado. Queria ter dado um passo pra trás, virado a esquerda e ido pelo caminho que não fui;assim, só por curiosidade.
Queria não ter perdido os quinze minutos no lugar errado,com pessoas erradas e com o eu errado.Não ter piscado na hora que pisquei,e visto o que não vi.E fechado os olhos pra aquela ceguinha caída na plataforma do metrô, e pro negro cego que choramingava pela amiga.
Na verdade,eu queria sim ter visto.Por um lado queria também que eles pudessem ver,mas no fim,o ser humano é desprezível,e por isso invisível.
Dada a visão para estes passageiros seria lhes entregar a morte, o desgosto amarelo gosmento de barata da vida.
Pensem,e se ela começasse a enxergar? Pensem vocês,eu não quero.
Eu recuso a vida,recuso a morte.
Só não recuso meu presente,talvez ignore-o,mas não recuso. Prefiro minha cegueira no presente,quero ter minha visão do agora pouco e do logo,mas agora,quero ser cega.
Cega de um olho que não precisará nem ser olho;não precisarei chorar.
Quero estar cega dentro de mim, quero ser surda de mim e insípida a mim;afinal,sou como outro humano desprezível.Só que não sou de plástico, e morrerei cedo. Porque morro amanhã, e amanhã não é,será. E se será,pra ele estou enxergando. Tudo meio cubista e meio ininteligível,mas passível de minha alma entender.Afinal,essa é uma carta a mim mesma, à pessoa que menos conheço na vida e na morte, mas que conheci e conhecerei perfeitamente, assim, no passado e no futuro. O presente eu jogo debaixo do tapete e estou a pisá-lo por cima.
PESA(do)(delo)
Em vão,em luar
senti uma figura densa e amorfa me enforcando
e abafando.
Era minha sombra que silenciosamente gritava.
Minha sombra não me reconhecia mais.
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