sexta-feira, 27 de abril de 2018

acrobático

Mergulhada em teus braços, submergi à cobertura 

O desejo era circense, pela liberdade de pairar no ar 
em sensação de queda iminente, salvação recorrente
Solidão entre um giro e outro.

Quando subo, não vejo nada que me segure nem nada em que me pendure
Vejo duas moças, talvez gêmeas, castanhos cabelos presos em rabo de cavalo
Cada uma em uma esquina do edifício   
sentadas em seus rubros tecidos acrobáticos
Não se balançavam, não rodopiavam:  mantinham uma assimétrica e cérea postura 

Impressionada por tamanha harmonia, verifiquei se havia qualquer rede que as segurasse caso elas caíssem 
Não havia rede
(havia harmonia?)
Procurei então meu tecido rubro, que decerto estaria pendurado nos céus
Não havia 

Havia somente a mim
ao centro
Me despedindo da aventura sequer ofertada
Admirando as relações das moças em seus ousados relacionamentos serenamente dissimulados
Não havia respostas, não havia redes, não havia giros, não se previam quedas
Apesar de haver movimento
não havia  perigo
Somente havia o infinito céu sobre mim
e o horizonte que te apontava crescente