terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sobre o que ninguém contar: quando é só ela quem vai


Quando pequena (não sei isso em tempo, sempre tem aqueles que sempre foram uns dez anos mais velhos que a gente que sempre zombavam quando usava expressão, porque, afinal, você era mesmo pequena demais pra usar esse longo espaço de tempo nas costas de mochila de rodinha rosa e roxa que comprou em dia quente que você se recorda com detalhes, apesar de tanto tempo) eu não sabia esperar um minuto passar, fazer um charme. Se eu sabia uma mágica, eu saia correndo mostrar. Era pequeno meu espectro de pessoas pra quem eu me submetia a isso, não porque era algo de grande porte, só porque eu não lembrava o truque para exibir para mais gente. Eu pegava o instrumento ou guardava a manha e mostrava. Não sentia tanto prazer em mostrar, talvez porque, principalmente, eu não fazia com tanta manha assim, eu fazia meio errado, meio sem graça, meio apressada. Minha platéia não me retribuía muita atenção, e eu não me importava muito, estava o suficiente.
Quer saber o truque?Quer saber como faz?

Quantas caras será que a gente tem? A gente parece que vê sempre as mesmas quando vai ao banheiro e já consegue alcançar a si no espelho. Marchamos um desfile cortês ou despojado, inconscientemente planejado, afinal, estamos a um encontro de nós mesmas e temos assuntos a tratar desde a última visita.


-Você cuidou do seu cabelo? Você não sujou a cara e não percebeu? Você não está com restos de comida egípcia colada no dente? Sua barriga está ok? Fechou o zíper? Sua boca falta batom? O desodorante está suficiente? Retocou o protetor no rosto? A calcinha está marcando? Bronzeou? Como está sua pele? Esqueceu que precisava arrumar a sobrancelha? A maquiagem borrou? Perdeu um brinco!? A saia não tá muito curta, não?
-Dormiu bem? O remédio pra espinha e o pra olheiras estão funcionando? Você está se sentindo bem com você mesma? Se ama? Você tá grávida? Você bebeu muito. Está preocupada com o cheiro que deixou e essas suas caretas inexpressivas são encenações de como talvez as próximas meninas reagirão a isso? Você tem superado seus medos? Hoje, aí nesse lugar depois da porta, você esta fazendo o que prometeu? Tem sido mais calma? Tem bebido mais água? Tem sido mais responsável? E menos instintiva?

Dura de segundos a minutos. Dependendo das respostas principalmente das últimas perguntas, a demora pode alcançar as famosas horas (nem tão famosas, na verdade, isso costuma ser mais em ambientes reservados, banheiro nosso, perguntas mais profundas e bate-papo certeiro e com certeza este não seria revelado aqui). Dependendo das respostas, principalmente da segunda parte da checklist, a situação pode ficar mais séria e atrasada.

Somos nós, mães de nós, filhas de nós, policiais de nós. E por razão de que talvez sejamos teimosas e difíceis de mudar. Porque no espelho, temos sempre a mesma cara, as mesmas promessas, a mesma vontade, o mesmo auto-controle de como se mexer, manter a postura, o sorriso delicado a pele desfranzida e o combo manipulação do pensar.
Complicado é que, da porta pra fora, a gente não consegue ver nossa marcha, que talvez já está manca e um pouco torta. E nossa cara então?



Tá aqui o truque que a explicação dura mais que mágica, e
“centopéia que tenta refletir sobre quais pezinhos tem que mexer, deixa de dançar”.