quarta-feira, 30 de junho de 2010

uma rosa mal espetada traz o choro


o choro ininterrupto. o choro chorado e doído e pra sempre, e as lágrimas que fazem as luzes do semáforo brilharem de um jeito estrelar e bonito e doído. as estrelas de luz mudam na inconstância do choro, do choro que muda mas que não pára. e que não se sabe. nem foi bem uma rosa, foi metáfora.

rosa é metáfora pra insatisfação. de frequentar ambientes, frequentar pessoas, frequentar situações, frequentar cheiros que não combinam. e que espetam. e que fazem você sentir que não fala a mesma língua que o resto. não busca a mesma coisa que o resto, não gosta da mesma coisa que o resto. que você não cheira que nem o resto. nem fede que nem o resto. não: você fala numa língua muda, cheira um cheiro estranho e fede um cheiro bom. você não combina. não se sente mal por isso. apenas sabe.

rosa é metáfora pra comodidade. você sente aquilo tudo e sabe que dói. sabe que poderia ser diferente. sabe como mudar. sabe os mais longos e mais curtos caminhos de mudar e melhorar. mas, mais que tudo, sabe que não quer nada disso. não quer fazer o que você faria em momentos sem rosas mal espetadas. não quer mudar a situação. isso te distancia ainda mais, e isso espeta ainda mais. mas, você já se acostumou com a dor, que já nem está mais, assim, tão doída.

rosa é metáfora pra afogamento. afogar-se das insatisfações e das comodidades só fazem você criar um mar poluído e negro e abrir a boca pra que a água te encha os pulmões. não se identificar com merda nenhuma do mundo e não querer que isso mude só faz que você não se importe mais-ainda e que não queira mudar nada mais-ainda. num afogamento mais-ainda que se retroalimenta, se eterniza. e te espeta.

espetar é metáfora do não saber. não saber de quem você gosta. nem saber se gosta da pessoa. nem saber quem é ela. ou se ela é como você quer. ou se, mesmo não sendo, se o que ela tem é o suficiente pra ser gostada. ou se você gosta mesmo é daquela que fede e cheira que nem você. ou se gostar de alguém como você te faria menos somado. você não sabe o que sente. não sabe o que é sentir. não sabe medir. não sabe expressar. e pior, não sabe conquistar sejaláoque-em-queintensidadefor, de volta. você não sabe gostar e nem ser gostado. mas, mais que isso, não sabe se quer e se gosta e tudo isso numa retroalimentação eternizada e espetada. sendo que você sabe, que aquela outra mais igual você, espetaria menos. mas, mais que isso: você gosta de ser espetado. é um sangue sutil que se vê e que se comemora. você sente um prazer maldito em sentir dor. você é ridículo.

ser espetado é receber um telefonema. de quem não sabia que você tem chorado lágrimas de semáforos estrelados. de alguém que Algo o fez sentir que ele precisava falar com você. esse seu irmão te liga e você fica certo de que foi sua mãe, preocupada, quem o mandou te ligar. mas ele ligou despretensiosamente e dá até dó de ele ouvir minha voz de choro. mas eu chorei de novo dizendo "não tem nada não" e me botei a limpar rápido meu rosto que se derretia, como se ele pudesse me ver. dizia a ele das rosas da minha vida, das rosas na faculdade, das rosas nas amizades, das rosas dos livros e dos filmes, das rosas da avenida paulista, das rosas dos corações. e dizia dos espinhos das rosas, das rosas que me espetaram a euforia, espetaram a amizade, espetaram a minha busca pelo evoluir, espetaram meu coração. espetaram a rosa que eu era.

e enfim eu senti um dos espinhos sendo tirado de dentro de algum lugar antes espetado. e meu sangue que havia pingado voltou a circular duma maneira persistente dizendo para que eu não desistisse e escutasse bem o que o outro lado da linha tinha a dizer. e eu descobri. descobri algo lindo e florido e orquídeo.
descobri que um desequilíbrio permanente pode se mascarar de equilíbrio. porque está se afogando em e quase dado como morto, e morte é, de certa maneira, equilibrada.
e descobri que para se encontrar, novamente, o equilíbrio, é preciso desequilibrar esse desequilíbrio. e esse ato de desequilibrar é que espeta e sangra.
e descobri que "eu estou mudando" nas palavras dele, e isso me soou bonito e doído e maduro e infantil ao mesmo tempo que eu chorei de orgulho de mim mesma. ele disse que eu estou chorando porque estou aprendendo que a vida não é feita de abraçar emoções intensas sempre. e que eu estou aprendendo isso, e isso me enfia um espinho tão grande na minha intensidade que sempre abracei que meu corpo emocionado e triste se põe a chorar, se despedindo de quem eu era.

terça-feira, 22 de junho de 2010

cantam ao contrário

Sabe quem?

Quem sabe o que é perder e ter alguém?
Dor a sente que dorei
Quem sabe o que é partir quem se quer ver?
E não ir pra onde ter

Faz tanta falta te esperar, teu amor
Não sei ter sem te viver
Não dá assim pra ser mais

Quem sabe o que é querer sem ter pra si?
Não quer mim outro em ver
Não é do que eu deveria falar
Pra ser feliz mais alguém


-H. Los, "Quem sabe"

domingo, 20 de junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010



Que paixão e medo se parecem.
Ciúmes e paixão se parecem. Ansiedade e paixão se parecem.
Insônia e paixão. Dor e paixão. Euforia e paixão.
Nirvana e paixão.


Todos fazem meu coração gingar sempre no mesmo batuque. Meu rosto enrubrescer sempre no mesmo tom.
Meu olhar desviar sempre pro mesmo lugar nenhum, até se fechar
e me permitir sentir batucando,
enrubrescendo,
desenxergando,
nirvanando até que tremo
tremo em febre; tremo em medo; tremo por me mexer
e entorpeço
Atinjo o topo, me sinto o topo, me sinto apaixonada. A própria paixão.

Abro os olhos. Olho pro lado oposto.
Sinto meu rosto azulescendo.
Desbatucando meu coração. Torna a batida tribal. Crescente, negra.
Bate, abre olhos; bate, desbatuca; bate,cai; bate, cai; bate,cai...bate,bate, parece que não, bate.
Adormeço.

Atinjo o fundo, me sinto o fundo, me sinto apaixonada. A própria.



amanheço.
a Paixão (mesmo) continua dormindo. Não sei como acordá-la pois tão logo sinto medo...e o medo me apaixona de novo e eu me entrego de alma e toda ela


para mais tarde me arrepender.